O que nos ensinam as organizações rurais inovadoras? Inovar é aprender e interagir

por Lívia Madureira

Professora na UTAD e Coordenadora do projecto Rur@l Inov – Inovar em Meio Rural

 

A inovação é por vezes definida como um processo de aprendizagem interactiva. A observação de organizações inovadoras sedeadas em meio rural, e dos respectivos processos de inovação, confirma a definição.

Os resultados do inquérito realizado, a nível nacional entre Agosto de 2012 e Fevereiro de 2013, a um grupo de 120 destas organizações, no âmbito das actividades do projecto RUR@L INOV (Inovar em Meio Rural), evidenciam que estas se distinguem pelas competências e pela motivação em encetar e prosseguir processos de aprendizagem contínua.

Sobressaem no inquérito os líderes competentes para mobilizar e integrar vários tipos de conhecimento (p. ex., científico e tácito) que obtêm em múltiplas fontes e de variadas formas.

Entre estas últimas destacam-se a interacção entre as organizações inovadoras, frequentemente através dos seus líderes, e os diversos players da inovação. Neste persistente networking predominam as parcerias informais, de configuração variável, à medida dos recursos e das necessidades dos inovadores. O denominador comum é que são os inovadores os maestros desta acção colaborativa. São-no por competência mas também por necessidade. Outros players, nomeadamente os que são responsáveis pela produção e transferência de conhecimento, como é o caso das unidades públicas de I&D, encontram-se distanciados da pequena investigação e focados na inovação tecnológica radical.

A pequena dimensão, a diversidade e a baixa densidade organizacional dos territórios rurais explicam a escassez observada de inovação colaborativa e também a necessidade dos inovadores em criarem e liderarem as suas próprias dinâmicas de aprendizagem interactiva. E explicam-no porque entre as empresas rurais inovadoras predominam a inovação incremental (que reflete pequenas melhorias contínuas em produtos ou em linhas de produtos) e o desenvolvimento de produtos novos ou melhorados através de combinações variadas de inovação de produto, de marketing e de processos. A predominância deste padrão e dinâmica de inovação entre as PME é conhecida. Porém, se a orientação para o mercado e para a internacionalização das PME é olhada como vital para a sua sobrevivência, a inovação de pequena escala que as suporta é desvalorizada por comparação com a inovação tecnológica. Por isso se sobrevaloriza a inovação tecnológica em detrimento da inovação de pequena escala e de baixa intensidade tecnológica.

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E, no entanto, é evidente o sucesso destas organizações inovadoras em desenvolver uma economia de nichos de mercado, uma economia “do gourmet”, que inovando continuamente explora “à medida” os recursos dos territórios rurais. Isto ao mesmo tempo que projecta a imagem de Portugal pelo mundo fora e devolve a auto-estima ao “rural” e à “agricultura”.

A aposta forte na internacionalização tem viabilizado estratégias colaborativas inovadoras, com frequência assentes em modelos organizacionais inovadores. São, todavia, em meio rural mais a excepção do que a regra (como de resto noutras envolventes). Cooperar, designadamente, com competidores não se configura um processo fácil.

A aprendizagem colectiva em intensa interacção é crucial. Como desencadeá-la e alimentá-la é um desafio mas simultaneamente uma oportunidade para as organizações e territórios rurais. Um desafio para os inovadores, mas igualmente para os players da inovação das interfaces do conhecimento e das políticas públicas, que carecem aprender novas formas de conhecer e de estimular o que determina o sucesso das estratégias colaborativas.

A aprendizagem colectiva dos vários players da inovação afigura-se a alavanca para a afirmação de uma economia “do gourmet” sustentável, ou seja, com uma escala que garanta a excecionalidade. Uma oportunidade de concretizar o paradigma da sociedade inteligente e sustentável através da inclusão (neste casos dos territórios rurais e das pequenas organizações), e de uma economia para além da especialização sectorial, apostada na especialização inteligente do Portugal rural, através da capitalização das suas especificidades por via da inovação e da internacionalização. Porque a economia rural é agricultura, agro-indústria, mas também é turismo e outros serviços.

É pois tempo de as políticas de desenvolvimento rural e agrícolas se conciliarem e reconhecerem que devem arriscar mais nas pessoas e nas organizações e confiar menos nos projectos. Trata-se de mudar o paradigma focando-se nos projectos de pessoas e/ou organizações motivadas e capacitadas para inovarem através da aprendizagem contínua ao invés da eleição dos projectos “rentáveis” a priori. Isto porque todos sabemos que o que hoje é rentável amanhã já não o será necessariamente, a menos que por detrás dos projectos estejam pessoas e/ou organizações motivadas e capazes de anteciparem as mudanças constantes, e muitas vezes imprevisíveis, na conjuntura económica, nas políticas e nas procuras da sociedade.

Artigo de opinião publicado em Julho de 2014, no Jornal Pessoas e Lugares Nº 15.


Terra Viva 2019


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A 3.ª edição do programa Terra Viva da Antena da TSF deu voz e ouvidos a 54 promotores e promotoras de projetos, beneficiários da Medida LEADER do PDR2020 através dos Grupos de Ação Local do Continente, entre os dias 3 de junho e 9 de julho de 2019.

ELARD

 

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A ELARD, constituída por redes nacionais de desenvolvimento rural, congrega Grupos de Ação Local gestores do LEADER/DLBC de 26 países europeus. A MINHA TERRA foi presidente da ELARD no biénio 2018-2019.

54 Projetos LEADER 2014-2020

 
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Repertório de projetos relevantes e replicáveis apoiados no âmbito da Medida 10 LEADER do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 elaborado pela Federação Minha Terra.

Cooperação LEADER


Edição da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e Federação Minha Terra, publicada no âmbito do projeto “Territórios em Rede II”, com o apoio do Programa para a Rede Rural Nacional.





[ETAPA RACIONAL ER4WST V:MINHATERRA.PT.5]