2022-05-13
Iniciativa "Desenvolvimento Local em Portugal - Uma História Contada na Primeira Pessoa"
Testemunho de Marta Alter, MONTE ACE - Desenvolvimento Alentejo Central
Algures num longínquo ano de 1996 numa página dos Classificados do Jornal Público uma organização chamada Monte procurava um(a) coordenador (a) para o GAL. A designação não podia ser mais estranha! Junto de amigos que viviam em Évora procurei saber mais sobre a organização mas já sobre o dito GAL ninguém me sabia ajudar.
Liguei para um antigo professor, José Manuel Henriques, protagonista e teórico do Desenvolvimento Local em Portugal que me deu uma ajuda preciosa para descortinar o que eram os GAL e o programa LEADER. Foi ainda com a sua ajuda que cheguei ao José Carlos Albino e que, com a conversa que tivemos, acrescentou à minha motivação a determinação para me mudar com a minha família de Lisboa, primeiro, para Évora e depois para a Vila de Arraiolos.
Passados 24 anos ficaram-me na memória os 3 dossiers que me deram com outros tantos volumes da candidatura apresentada ao programa LEADER II para começar a trabalhar no território do Alentejo Central, designação que passou a fazer parte do meu léxico, já que até então, só conhecia esta região de alguns fins-de-semana mais prolongados de saída da capital.
No princípio, as dificuldades foram muitas: localizar um centro comunitário numa aldeia para dinamizar uma ação de divulgação do Programa de Desenvolvimento Local; voltas e mais voltas em estradas sem retorno, com um mapa de estradas ao meu lado, onde estas nem sequer vinham assinaladas, para pelo menos não me perder, já que conseguia chegar sempre atrasada.
Aos poucos comecei a conhecer as aldeias e a saber de cor os nomes das localidades que se espraiam desde a fronteira com Espanha à Área Metropolita de Lisboa; aprendi os atalhos que me levavam mais depressa ao encontro das comunidades; os nomes dos lugares e dos cafés que me ajudaram a ter referências; a reconhecer os cidadãos a que me habituei a recorrer para me ajudarem a dinamizar atividades.
Um ano depois, numa reunião em Santarém, viria a conhecer outros coordenadores e colegas que quero acreditar ficam para a vida, aos quais me habituei a acrescentar ao apelido a identificação do respectivo GAL, como se de uma geografia de afectos se tratasse!
E falta-me referir tantos outros colegas, “companheiros de viagem” que integram as memórias (felizes) e que não deixamos para trás: afinal, aqueles de quem nunca nos esquecemos, que nos ajudam a recentrar e nos dão ânimo para perspectivar novas oportunidades, novos dias.
Porque para nós o Programa LEADER são as pessoas: aquelas para as quais trabalhamos e as que connosco trabalham.
Neste caminho, o território (do interior) ficou mais próximo e interessante, e dei comigo a passar férias com a minha família nos locais que descobri em reuniões de trabalho do programa LEADER. Com isso ganhei ainda o hábito de olhar para as placas que sinalizam as intervenções dos GAL! Diz-se que é deformação profissional. Acredito que se trata de uma perspectiva mais próxima e afectiva dos territórios, com a qual nos identificamos diariamente.
Neste percurso o Desenvolvimento Local instalou-se no nosso quotidiano e os princípios da abordagem LEADER nas intervenções que fomos desenvolvendo na dinamização da área social e económica do território; destes princípios aquele que melhor define esse trabalho é a proximidade. Contudo, hoje em dia, é muito mais difícil reconhecer e implementar esses princípios, no trabalho que diariamente desenvolvemos, espartilhados que se encontram num emaranhado de instrumentos legais cheios de gavetas. Outrora, a proximidade que tínhamos aos agentes dos territórios constitui agora um desafio constante e que se sobrepõe ao registo informático num balcão de um programa nacional; não é fácil manter essa ligação ao tecido social e económico da região, já que muito do tempo é despendido a alimentar sistemas de informação, cegos e impessoais. É um desafio constante e de difícil aplicação, manter o equilíbrio e a dosagem certa neste processo de desenvolvimento local.
Quando somos convocados para refletir sobre o futuro, apontamos para a necessidade da animação do território; a existência de uma intervenção própria que possibilite às organizações locais, com a participação de todos, cozer pontas, fazer pontes, dar visibilidade e escala a ideias e iniciativas locais.
A animação do território é ter a capacidade para levar mais longe uma ideia de desenvolvimento social e económico que vá ao encontro das expectativas das comunidades que aspiram a níveis de felicidade, de conforto e de melhor qualidade de vida - é a afirmação de valores, especificidades e identidades locais que respeitem a respectiva singularidade.
A animação do território concorre para o desenvolvimento de um espaço de transformação coletivo e de afirmação das especificidades locais; esta é uma área de intervenção que importa investir e trazer para o espaço de discussão. São as abordagens locais que melhor garantem o desenvolvimento de um território, resultado de um somatório maior que os agentes e cidadãos que aí vivem e no qual se inter-relacionam.
A formação de agentes de desenvolvimento local foi uma oportunidade para a estruturação de um movimento associativo. Hoje em dia e, não obstante também ter servido para oferecer competências técnicas ao poder local, esta necessidade não figura nas agendas (catálogos) nem nos referenciais de formação. Dever-se-ia investir nesta área para responder aos novos desafios que se colocam aos territórios sejam eles os ambientais, a economia digital ou a segurança alimentar. E como será fácil este trabalho, tendo em conta o número e experiência das equipas técnicas que há trinta anos trabalham com o programa LEADER, junto das populações.
Por fim, o maior desafio futuro prende-se com a garantia de que os princípios de trabalho que orientam a abordagem LEADER, reconhecida como a mais adequada ao desenvolvimento local, não se percam na sua transposição para programas nacionais e, sobretudo, que a mesma não seja tratada como uma intervenção obrigatória nos programas nacionais mas de carácter minimalista e subvertida na sua principal característica de proximidade, “selo de qualidade” que a distingue de qualquer outra forma de perspectivar o desenvolvimento local dos territórios, em particular, do interior, mais afastados dos centros de decisão e de definição de políticas públicas.
Terra Viva 2019A 3.ª edição do programa Terra Viva da Antena da TSF deu voz e ouvidos a 54 promotores e promotoras de projetos, beneficiários da Medida LEADER do PDR2020 através dos Grupos de Ação Local do Continente, entre os dias 3 de junho e 9 de julho de 2019. |
ELARD
A ELARD, constituída por redes nacionais de desenvolvimento rural, congrega Grupos de Ação Local gestores do LEADER/DLBC de 26 países europeus. A MINHA TERRA foi presidente da ELARD no biénio 2018-2019. |
54 Projetos LEADER 2014-2020 Repertório de projetos relevantes e replicáveis apoiados no âmbito da Medida 10 LEADER do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 elaborado pela Federação Minha Terra. |
Cooperação LEADEREdição da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e Federação Minha Terra, publicada no âmbito do projeto “Territórios em Rede II”, com o apoio do Programa para a Rede Rural Nacional. |
O livro “Receitas e Sabores dos Territórios Rurais”, editado pela Federação Minha Terra, compila e ilustra 245 receitas da gastronomia local de 40 territórios rurais, do Entre Douro e Minho ao Algarve.
[ETAPA RACIONAL ER4WST V:MINHATERRA.PT.5]