O futuro da Europa rural depende de coragem política e parceria genuína

2025-11-10

Por Luís Chaves

O 6º Parlamento Rural Europeu concluiu com a aprovação da Declaração de Inverurie, um documento colectivo que reúne as reivindicações e compromissos das comunidades rurais europeias para orientar políticas e acções rumo a um meio rural mais coeso, sustentável e resiliente.

A Declaração de Inverurie é mais do que um manifesto: é um grito de alerta e de esperança das comunidades rurais europeias. Nas três páginas desta curta declaração, co-construída pelos participantes no parlamento, fica claro que o tempo das promessas vazias e das políticas desenhadas à distância precisa de chegar ao fim. As zonas rurais não são apenas paisagem ou reserva de tradições; são o coração pulsante da Europa, onde se criam soluções para os desafios mais urgentes do nosso tempo.

O texto é incisivo ao afirmar que as comunidades rurais não pedem ajuda, mas sim apoio em parceria. Estes territórios já estão a impulsionar mudanças, inovando, criando valor local e promovendo inclusão. O que falta é reconhecimento e remoção das barreiras que ainda as impedem de avançar. É preciso abandonar o paternalismo e adoptar uma postura de colaboração genuína.

A Europa rural exige políticas que sejam pensadas com e para quem vive no território. O apelo à aplicação sistemática do “rural proofing” em todas as políticas públicas é um passo fundamental. Integrar as vozes rurais desde a concepção até à avaliação das políticas não é apenas justo, é estratégico. Ignorar essa dimensão é perpetuar desigualdades e desperdiçar potencial.

Outro ponto crucial é o financiamento. Programas de apoio precisam ser acessíveis, flexíveis e transparentes, chegando efectivamente às comunidades. O paradigma do crescimento desenfreado deve dar lugar à sustentabilidade e à criação de riqueza partilhada, com foco nas necessidades locais.

A declaração não deixa de destacar o papel dos jovens. A Europa rural só terá futuro se conseguir criar oportunidades para que os jovens permaneçam e prosperem nas suas comunidades. Isso exige investimento em educação, capacitação técnica e digital, e valorização da criatividade e do empreendedorismo local.

A União Europeia e os governos nacionais e regionais têm diante de si um desafio e uma oportunidade histórica. Transformar a Visão de Longo Prazo para as Zonas Rurais em acções concretas, com recursos adequados, é uma obrigação moral e estratégica. O financiamento para instrumentos territoriais como o LEADER/DLBC deve ser garantido e reforçado, sob pena de se perder o dinamismo que as comunidades têm demonstrado.

É urgente pôr fim ao encerramento de serviços e ao despovoamento das áreas rurais. Promover uma visão positiva da vida rural, investir em capacidades locais e reconhecer as comunidades como guardiãs de activos críticos são medidas que não podem mais esperar.

A mensagem final da Declaração de Inverurie é clara: não há mais tempo para adiamentos. A mudança sistémica é necessária, mas não pode servir de desculpa para a inacção. O futuro da Europa rural depende de decisões corajosas, tomadas em conjunto, com quem vive e constrói diariamente o território.

Cabe aos decisores políticos ouvir este apelo e agir. O legado da Europa rural está em jogo – e com ele, o futuro de toda a Europa. 

A Federação Minha Terra participou no 6º Parlamento Rural Europeu, que decorreu em Iverurie, na Escócia entre 21 e 23 de Outubro de 2025, reunindo cerca de 400 participantes de mais de 30 países. A Declaração de Inverurie está disponível na integra, em português.

Luís Chaves

Federação Minha Terra

Publicado originalmente no n.º 486 da revista Gazeta Rural, de 15-10-2025. Disponível em: https://www.calameo.com/read/00729584090e9fbe3ef27