30 anos de LEADER: Testemunho de António Montalvão Machado

2021-09-13

Iniciativa "Desenvolvimento Local em Portugal - Uma História Contada na Primeira Pessoa"

Mesmo sabendo que tudo nesta vida é relativo, trinta anos é uma quantidade de tempo suficiente para deixar uma marca num qualquer contexto e no que diz respeito ao LEADER, seja como programa específico, seja como a tão disseminada abordagem,não existem dúvidas que também o fez.

Na verdade, muito se pode continuar a dizer sobre as virtudes desta iniciativa que veio alterar profunda e definitivamente a forma de dinamizar o desenvolvimento dos territórios rurais europeus, abrindo um campo infindável de oportunidades para a teorização do desenvolvimento local, mas, principalmente e muito mais importante, lançando e dinamizando muitas mais oportunidades para as comunidades desses territórios.

No fim, de tudo o que se viu, a grande virtude do LEADER será sempre a sua capacidade de focar o desenvolvimento de um território específico nas pessoas e nas características desse mesmo território, transferindo o poder de escolha, de planeamento e de decisão para as comunidades locais, abrindo-se uma oportunidade para uma nova forma de gestão desses espaços, mais participada, coordenada e integrada, fomentando uma democracia de proximidade capaz de assegurar uma preservação dinâmica da identidade local.

De uma forma muito simples, tratou-se, ou trata-se, de ter a coragem, a capacidade e avisão de inverter a ordem do que está instituído através dos procedimentosconvencionais de intervir nos territórios, deixando de ser a administração a dizer oque se deve fazer, para passar a ser a própria comunidade local a fazê-lo e a determinar a forma como se deve fazer e com quem.

Palavras ou terminologias como abordagem territorial, local, bottom-up, identidade, endógeno, proximidade, diferenciação, inovação, ambiente, competitividade, economia circular, complementaridade, carácter demonstrativo, modelo de governação e outros, passaram a fazer parte do léxico de conversação dos atores locais dos territórios dos espaços rurais europeus.

Aqueles que estivemos envolvidos em todo este processo temos a noção que aquilo que fizemos foi diferente daquilo que estava implementado, pois trouxemos para os nossos cantinhos, para as nossas terras, uma nova fórmula de desenvolvimento, a qual deveria ter funcionado como uma espécie de poção mágica e dar-nos força suficiente, para, todos juntos, combatermos e derrotarmos o atraso cívico, cultural, social, económico e ambiental com que a poderosa administração central historicamente nos estava sufocando.

No fundo era a oportunidade de implementar nos nossos territórios uma nova cultura de desenvolvimento, de cidadania e de participação democrática.

Todavia e curiosamente, passados os tais trinta anos, dando comigo a pensar em todas estas matérias, assumo ter cada vez mais incertezas suscitadoras de algum abrandamento no entusiamo que vai persistindo, e, se é certo que nunca colocarei em causa o enorme orgulho que tenho em ter participado no percurso percorrido, em que tanto aprendemos constantemente, tanta gente interessante conhecemos e em que tanto fomos correspondidos através da resolução de tanta coisa e de tantas vidas,também é verdade que também constatamos que algo ficou por fazer, restando-nos uma angustia de, efetivamente, não termos sido capazes ou de não nos terem deixado cumprir totalmente os sete desígnios do LEADER.

Na verdade, além de sermos mais organizados, mais capacitados e mais competentes, também era suposto que as potencialidades dos nossos territórios fossem devidamente exploradas com muitos mais benefícios para as comunidades locais, que as nossas terras assumissem ser únicas, diferentes e valiosas, transmitindo um maior orgulho para as suas gentes, e que haveria uma maior qualidade de vida, com uma democracia plena, com as nossas necessidades básicas completamente satisfeitas ecom uma identidade cultural valorizada, invertendo-se, assim, de forma definitiva, a terrível desertificação a que continuamos a assistir.

Hoje devíamos estar felizes por termos assumido plenamente a nossa função de agentes de desenvolvimento, dando um novo e melhor futuro a todos nós, às nossas regiões e às nossas comunidades. Mas, na verdade, será que estamos?

Hoje, que celebramos os trinta anos do LEADER, será que podemos assumir que conseguimos cumprir totalmente o nosso papel de agentes de desenvolvimento, que consolidamos a utilidade destas plataformas de entendimento entre todos os locais, tal qual deveria ser a missão das nossas organizações LEADER?

Tenho a certeza que apontamos, mostramos e demonstramos qual era o caminho a seguir, mas continua a persistir a terrível duvida se, efetivamente, fizemos tudo o que poderíamos e devíamos ter feito, ou se, muitas vezes não nos teremos deixado sucumbir ao terrível facilitismo de seguir a via de alienar responsabilidades, de abandonar as nossas comunidades locais colocando-nos do lado dos mais fortes, ou então de optar por um enquadramento na rede de funcionalismos com tiques de sobranceria.

E agora, o que queremos e o que é que queremos ser? Funcionários ou agentes de desenvolvimento? Queremos trabalhar com e para aqueles que estão a montante deixando-nos levar pela corrente ou queremos estar ao serviço dos que estão do outro lado, dos que estão a jusante e que sabem desde logo que vão ter que lutar contra acorrente.

De que lado queremos e devemos estar? É que as posições vão-se extremando e, se calhar, vamos ter que optar.

Seja como for, o LEADER é uma abordagem, uma forma de estar e trabalhar, um programa que não deve ficar preso a situações de lamentos, de adiamentos do inevitável, de sustentação de situações insustentáveis, de posturas passivas perante o desenvolvimento, mas antes deve procurar inverter estas situações, fomentando e dinamizando uma certa cultura para o desenvolvimento, criando novos argumentos e novas capacidades económicas, recuperando orgulhos perdidos e promovendo novas posturas pró-ativas face aos novos desafios do desenvolvimento local.

Esta deve ser a postura face aos próximos trinta anos.


Terra Viva 2019


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A 3.ª edição do programa Terra Viva da Antena da TSF deu voz e ouvidos a 54 promotores e promotoras de projetos, beneficiários da Medida LEADER do PDR2020 através dos Grupos de Ação Local do Continente, entre os dias 3 de junho e 9 de julho de 2019.

ELARD

 

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A ELARD, constituída por redes nacionais de desenvolvimento rural, congrega Grupos de Ação Local gestores do LEADER/DLBC de 26 países europeus. A MINHA TERRA foi presidente da ELARD no biénio 2018-2019.

54 Projetos LEADER 2014-2020

 
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Repertório de projetos relevantes e replicáveis apoiados no âmbito da Medida 10 LEADER do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 elaborado pela Federação Minha Terra.

Cooperação LEADER


Edição da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e Federação Minha Terra, publicada no âmbito do projeto “Territórios em Rede II”, com o apoio do Programa para a Rede Rural Nacional.





[ETAPA RACIONAL ER4WST V:MINHATERRA.PT.5]